Opinião

O inesquecível Ramão Barros

Por Rubens Amador
Jornalista

Ele foi, talvez, o maior fotógrafo que o Diário Popular já teve. Gordo, bonachão, adorava pregar peças nos amigos. Poucos sabem, mas Wilson Lima que alcançou culminâncias na profissão, aprendeu tudo com seu pai Ramão, e superou-o. Por vários anos, até se aposentar, foi profissional da Universidade Federal. Apesar de levar o sobrenome da mãe, era filho de Ramão Barros.

O que Ramão mais gostava era de pregar peças nos outros. Frequentador do Clube de Regatas, em certo dia de chuva um grupo mateava. Naquele dia, alegando azia, só encheu a chaleira e ficou conversando. A turma sorvendo com vontade.Em determinado momento notaram uns fios saindo pelo bico da chaleira. Abriram a tampa, e se depararam com uma rã enorme, já cozida. Enquanto vomitavam, o Ramão já vinha no bonde para o centro, rindo sozinho.

Antes do Diário Popular, trabalhou nas oficinas gráficas da extinta Livraria do Globo. Em certo aniversário da firma, ele se encarregou do preparo dos comes e bebes. Convidou um colega para fazer uma "ursada" com o pessoal. O outro achou ótimo. Então compraram uns 30 "Purgoleites" - severo laxante- que moeram com uma garrafa. O pó, colocaram no tacho com o patê. No fim do dia, os dois ou três banheiros da livraria apresentavam extensas filas. Ele combinou com seu "cúmplice": "olha, os nossos, vão ter um canto cortado. Cuidado!" O outro agradeceu o aviso. Pois o Ramão fez uma marca diferente para ele, e pôs Purgoleite também nos do "cúmplice"...

Outra famosa dele foi a peça que pregou no seu amigo Adolfo Schwab, um alemão que foi o melhor técnico em pianos que Pelotas já teve. Ramão estava no mercado, quando viu um carroceiro transportando talos de bananas. "Aonde o amigo vai com esta carga?" "Pro forno do lixo!" "Não senhor, vou dar-lhe 2 mil réis e o senhor vai descarregar tudo ali na Félix da Cunha 510, onde eu e um amigo temos uma oficina de pianos. Destes talos fazemos cola. Chegue lá, e despeje tudo no corredor. Estou indo para lá. Assim foi feito. Dona Elza, esposa do Sr.Schwab, disse-me que estava em sua cozinha e passou a ouvir aquele baque sincopado (schuam) no corredor de sua casa. Depois de ouvir algumas vezes foi lá ver o que era aquele som repetido, e deparou com seu corredor tomado pelos talos de banana que o homem despejava.

Perguntou-lhe indignada: "O que é isto?". O carroceiro disse-lhe: "o sócio do seu marido mandou que eu deixasse tudo aqui no seu corredor. Ele está vindo para cá!" Dona Elza perguntou-lhe que tipo tinha a pessoa que mandou-lhe fazer aquilo. "Foi um senhor gordo." Ela disse-lhe: "Pois o senhor deve ter errado o endereço. Recolha imediatamente este lixo do meu corredor." E ao chegar o Sr. Schwab, seu marido, disse-lhe "sofremos mais uma do Ramão Barros!", e contou-lhe o ocorrido.

Ramão foi meu amigo até o enfarte que o levou. Então me procurava muito, pois eu o animava e minimizava o que tinha se passado com ele.


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